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Como Tereza de Benguela Construiu uma Sociedade Livre em Plena Escravidão

Descubra como Tereza de Benguela construiu uma sociedade baseada na liberdade em pleno Brasil colonial. Liderando o Quilombo do Quariterê, Tereza criou um espaço de resistência e autossuficiência, desafiando o sistema escravista e inspirando gerações com sua luta pela dignidade e autonomia.

A história de Tereza de Benguela é um exemplo poderoso de resistência, liderança e liberdade. Em um Brasil marcado pela brutalidade da escravidão, onde milhares de africanos foram trazidos à força e submetidos a trabalhos forçados, Tereza construiu e liderou uma sociedade livre em um quilombo, desafiando as estruturas de poder coloniais. Neste artigo, vamos mergulhar na trajetória dessa incrível líder, explorando como ela conseguiu manter uma comunidade independente e autossuficiente em tempos tão difíceis.

Pintura retratando mulher negra sentada com as mãos sobre o colo, frequentemente usada para retratar Tereza de Benguela.
Retrato frequentemente usado para retratar Tereza de Benguela

Quem Foi Tereza de Benguela?

Não se sabe ao certo se Tereza de Benguela foi uma mulher africana trazida ao Brasil como escrava durante o período colonial, ou se nasceu já em solo brasileiro. Ela viveu entre o século XVIII e XIX e liderou o Quilombo do Quariterê, localizado na região do Mato Grosso, uma área de floresta densa e de difícil acesso na época. Esse quilombo se tornou um refúgio para negros fugidos e indígenas que escapavam da violência colonial. Tereza é lembrada hoje como uma “rainha” do quilombo, um título que simboliza não só seu papel de liderança, mas também o respeito e a admiração que conquistou em sua comunidade.

O Que Era um Quilombo?

Os quilombos eram comunidades formadas por escravizados fugidos, indígenas e, em alguns casos, até mesmo brancos pobres ou marginalizados pela sociedade colonial. Eles eram lugares de resistência onde os quilombolas, como eram chamados os habitantes, viviam livres e longe da opressão dos senhores de engenho e das autoridades coloniais. Esses espaços foram essenciais para a preservação de identidades culturais e práticas sociais distintas.

Por exemplo, o Quilombo do Quariterê, liderado por Tereza, reunia diferentes grupos étnicos que, sob a liderança dela, conseguiram criar uma sociedade organizada, com leis próprias, uma estrutura política bem definida e até mesmo uma economia baseada na agricultura e na caça. Este quilombo foi um dos maiores e mais bem-sucedidos do Brasil, sobrevivendo por décadas e enfrentando ataques de bandeirantes e tropas coloniais.

A Importância dos Quilombos para a Liberdade

Desenho retratando um quilombo com suas cabanas e moradores.

Os quilombos eram, em muitos aspectos, o maior símbolo de liberdade para as pessoas  escravizadas no Brasil colonial. Fugir para um quilombo significava escapar do trabalho forçado, da violência e da opressão. Era uma chance de reconstruir a vida em comunidade e de recuperar, ainda que em parte, as práticas culturais trazidas da África. Assim, os quilombos eram locais de liberdade física e espiritual, onde a identidade e as tradições eram preservadas.

Para Tereza e sua comunidade, viver no Quilombo do Quariterê significava estabelecer um espaço de autonomia e dignidade, algo impensável para a maioria dos negros escravizados na época.

A Liderança de Tereza de Benguela no Quilombo do Quariterê

Após a morte de seu companheiro, José Piolho, Tereza assumiu a liderança do Quilombo do Quariterê. Sua gestão ficou marcada pela capacidade de unir diferentes grupos sociais e étnicos. Em um período em que muitos quilombos sucumbiam à pressão externa, Tereza conseguiu manter sua comunidade forte e resiliente.

Estrutura Política do Quilombo

Tereza estabeleceu uma espécie de governo no quilombo, onde conselhos e lideranças locais tratavam das questões internas. Essa estrutura política era incomum para os quilombos, mas foi crucial para o sucesso do Quilombo do Quariterê. Sob o comando de Tereza, a comunidade implementou regras de convivência e criou sistemas de distribuição de recursos, segurança e defesa.

Por exemplo, Tereza instituiu conselhos que decidiam sobre a defesa e o dia a dia da comunidade. Essa estrutura permitia que todos participassem das decisões, dando a cada membro um senso de pertencimento e responsabilidade.

A Defesa da Comunidade

A defesa do quilombo era uma das principais preocupações de Tereza. Para proteger sua comunidade, ela organizou esquemas de defesa e estratégias para enfrentar ataques das forças coloniais e bandeirantes que buscavam destruir o quilombo e capturar seus habitantes. Esses sistemas de defesa eram sofisticados, envolvendo vigilância constante e a construção de barreiras naturais para dificultar o acesso ao quilombo.

Sob a liderança de Tereza, o Quilombo do Quariterê resistiu a vários ataques, mantendo sua independência e liberdade por muitos anos. Esse esforço de defesa constante é um dos legados mais notáveis de Tereza, pois mostra sua dedicação em proteger o território e as pessoas que confiavam nela.

Nzinga Mbande: Como Uma Rainha Africana Desafiou a Colonização

Vida e Organização no Quilombo

Autossuficiência Econômica

Uma das chaves para a sobrevivência do Quilombo do Quariterê foi a autossuficiência econômica. A comunidade era baseada na agricultura, produzindo seus próprios alimentos, e na caça, além de outras atividades produtivas como o artesanato. Essa independência econômica permitia que o quilombo sobrevivesse sem precisar do auxílio externo e reforçava a autonomia do grupo.

Por exemplo, eles cultivavam mandioca, feijão e outros alimentos que garantiam a sobrevivência e a troca entre os membros do quilombo. A economia interna reforçava o senso de liberdade e independência, já que os quilombolas não dependiam de mais ninguém para suas necessidades básicas.

Cultura e Identidade Quilombola

A cultura dentro do quilombo era rica e diversa. Sob o comando de Tereza, o Quilombo do Quariterê manteve viva uma herança cultural que incluía tradições africanas, práticas religiosas e costumes indígenas. Essas práticas fortaleciam a identidade coletiva e ajudavam a manter a comunidade unida.

Religiões de matriz africana, cantos, danças e celebrações eram parte do cotidiano no quilombo, ajudando a preservar as raízes e o orgulho da ancestralidade. Esses aspectos culturais também serviam como uma forma de resistência, pois mostravam que, apesar de todas as adversidades, era possível manter viva a cultura e a liberdade.

“O colonialismo não se contenta em matar, ele quer desumanizar, quer transformar o colonizado em uma coisa. Ao despojá-lo de suas terras e de sua liberdade, o colonizador o despoja de sua identidade, impondo uma cultura e uma visão de mundo que não são as suas. O processo de descolonização, então, é inevitavelmente violento, pois é o meio pelo qual o colonizado se reconquista como humano, retomando o que lhe foi tirado.”

– Frantz Fanon, “Os Condenados da Terra” (1961)

A Queda do Quilombo do Quariterê e o Legado de Tereza

Com o passar dos anos, a pressão sobre o Quilombo do Quariterê aumentou, e, infelizmente, ele foi desmantelado em um ataque violento. Tereza foi capturada e morreu em cativeiro, mas seu legado continuou a inspirar gerações.

O Impacto Duradouro de Tereza de Benguela

O legado de Tereza vai muito além de seu tempo. Sua liderança, coragem e dedicação à liberdade fazem dela uma figura icônica na história de resistência negra no Brasil. Tereza representa a luta pela liberdade e a capacidade humana de criar alternativas em meio à opressão.

Hoje, Tereza de Benguela é celebrada como símbolo de resistência e luta pela liberdade, inspirando não apenas a comunidade negra, mas todos que valorizam a justiça e a igualdade.

A Importância de Lembrar Tereza e os Quilombos na História Brasileira

É essencial que a história de Tereza de Benguela e dos quilombos seja contada, valorizada e reconhecida. Esses espaços de liberdade formaram um dos pilares da resistência ao sistema escravista no Brasil e deixaram um legado de luta que ressoa até os dias de hoje.

Contribuição dos Quilombos para a Liberdade e Identidade Brasileira

Os quilombos simbolizam a resiliência e a busca pela liberdade que moldaram a identidade brasileira. Eles não foram apenas refúgios de pessoas fugidas, mas sim verdadeiras sociedades organizadas, com suas próprias leis, culturas e modos de vida. O impacto cultural, social e político dos quilombos é um aspecto vital para entender as complexidades do Brasil contemporâneo.

Por Que Conhecer a História dos Quilombos e de Tereza?

Conhecer a história dos quilombos e de figuras como Tereza de Benguela é entender a importância da luta pela liberdade e os sacrifícios feitos para resistir a um sistema opressor. Isso nos ajuda a valorizar a diversidade e a reconhecer o papel das comunidades negras e indígenas na construção da nação.

Breve resumo sobre Tereza de Benguela – Canal Coletivo Obirin

O Legado Vivo de Tereza de Benguela

Tereza de Benguela foi muito mais do que uma líder quilombola. Ela foi uma visionária, que em um momento de extremo desespero, enxergou uma chance de liberdade. Sob sua liderança, o Quilombo do Quariterê prosperou como uma sociedade autônoma e multicultural, baseada em valores de cooperação, respeito e dignidade.

A história de Tereza é um lembrete da força da resistência e da importância de preservar a liberdade e a identidade, mesmo nos momentos mais difíceis. Sua trajetória continua a inspirar a luta por justiça social, e seu legado é um pilar na história da resistência brasileira. Hoje, ao relembrarmos Tereza de Benguela, honramos não só sua memória, mas também o espírito de liberdade que ela representa.

Referências:

  1. “O Quilombo e a República: resistência negra e identidade nacional” – Almeida, D. B. (2006). 
  2. “O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil” – Ribeiro, D. (2019). 
  3. “Histórias de quilombolas: mocambos e comunidades de senzalas no Rio de Janeiro – século XIX” – de Flávio dos Santos Gomes. UNICAMP, 1992. Disponível em: https://www.repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/69703