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A Semana de Arte Moderna e Tarsila do Amaral: Revolução na Arte Brasileira

Descubra como a Semana de Arte Moderna de 1922 transformou a arte no Brasil e o papel fundamental de Tarsila do Amaral. Entenda como essa artista brasileira influenciou o movimento modernista e deixou um legado cultural único.

A Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, marcou o início de uma nova era para a arte brasileira. Mais do que um evento isolado, ela representou um movimento que buscava libertar os artistas das amarras do academicismo e criar uma identidade genuinamente brasileira na arte. E, embora Tarsila do Amaral não tenha participado diretamente dessa semana histórica, sua trajetória e obras estão profundamente ligadas aos ideais modernistas que nasceram naquele momento.

Foto de Tarsila do Amaral, perfil em tons de sépia.
Fonte: https://awarewomenartists.com

Neste artigo, vamos explorar o impacto da Semana de Arte Moderna, a importância de Tarsila do Amaral dentro do modernismo e como sua obra ajudou a moldar o futuro da arte no Brasil.

O que foi a Semana de Arte Moderna?

A Semana de Arte Moderna, também conhecida como Semana de 22, foi um evento realizado entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo. O objetivo era apresentar ao público brasileiro uma nova visão sobre arte, literatura, música e arquitetura. A Semana reuniu alguns dos artistas mais inovadores da época, como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Heitor Villa-Lobos. Eles estavam unidos por um propósito comum: romper com as tradições acadêmicas e buscar uma expressão artística mais autêntica e livre.

Por que a Semana de Arte Moderna foi tão importante?

Na época, o Brasil ainda estava fortemente influenciado pela arte europeia, e as academias de arte ensinavam estilos tradicionais e conservadores. Muitos artistas sentiam que essa abordagem não refletia a realidade brasileira e buscavam algo novo. Foi nesse contexto que a Semana de Arte Moderna aconteceu, provocando uma verdadeira revolução artística no país.

A Semana também foi um evento polêmico, com muitas críticas e até vaias do público. Afinal, obras como as de Anita Malfatti, que já havia causado escândalo com sua exposição individual em 1917, pareciam estranhas e incompreensíveis para um público acostumado à arte acadêmica. Mas essa rejeição apenas reforçou a determinação dos artistas de continuar inovando e quebrando barreiras.

Tarsila do Amaral: Um dos maiores nomes do Modernismo Brasileiro

O início da trajetória de Tarsila

Embora Tarsila do Amaral não tenha participado diretamente da Semana de Arte Moderna, ela se tornaria um dos principais nomes do modernismo brasileiro logo depois. Nascida em 1886 em Capivari, São Paulo, Tarsila teve uma educação tradicional e estudou arte em Paris, onde foi influenciada pelo cubismo e surrealismo. No entanto, foi ao retornar ao Brasil e entrar em contato com os modernistas que ela encontrou sua verdadeira voz artística.

Em 1923, Tarsila já estava em um círculo íntimo com figuras-chave do modernismo, como Oswald de Andrade, com quem se casaria mais tarde, e Mário de Andrade. Sua entrada nesse grupo foi fundamental para a consolidação do movimento modernista no Brasil. Como uma das principais artistas brasileiras, Tarsila se destacou por seu estilo único, que combinava elementos das vanguardas europeias com um olhar brasileiro, especialmente ao explorar temas nacionais, cores vibrantes e formas simplificadas.

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O impacto das viagens de Tarsila

As viagens de Tarsila a Paris desempenharam um papel crucial em seu desenvolvimento artístico. Foi lá que ela estudou com grandes mestres como Fernand Léger e absorveu as influências cubistas e surrealistas. Essa experiência lhe permitiu entender a importância de romper com as formas tradicionais e explorar novas maneiras de representar o mundo.

Um exemplo claro dessa influência está em sua obra mais famosa, Abaporu (1928), que é um ícone do movimento modernista e marcou o início do movimento antropofágico no Brasil. A figura distorcida e exagerada do “homem que come gente” é um reflexo do cubismo e do surrealismo, mas o tema é tipicamente brasileiro, representando a ideia de “devorar” culturas estrangeiras e transformá-las em algo próprio.

Fotografia tirada na Exposição de Tarsila no Rio de Janeiro, 1929. Da esquerda para a direita: Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Benjamin Péret e Eugênia Moreyra.
Fotografia tirada na Exposição de Tarsila no Rio de Janeiro, 1929. Da esquerda para a direita: Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Benjamin Péret e Eugênia Moreyra. Fonte: commons.wikimedia.org

O Modernismo Brasileiro e a Contribuição de Tarsila

A busca por uma identidade brasileira na arte

Um dos objetivos centrais da Semana de Arte Moderna e do movimento modernista como um todo era criar uma arte que fosse genuinamente brasileira. Antes disso, a arte no Brasil era amplamente influenciada pela Europa, e os artistas se preocupavam em seguir os padrões europeus, em vez de explorar temas locais. No entanto, Tarsila e seus colegas modernistas perceberam que o Brasil, com sua rica cultura indígena, africana e europeia, oferecia um vasto campo para a experimentação artística.

Tarsila do Amaral foi essencial nesse processo. Seu trabalho trouxe para a arte brasileira elementos do folclore, da paisagem rural e urbana do Brasil, e das tradições populares. Obras como “A Cuca” e “Carnaval em Madureira” retratam figuras e cenas que são claramente brasileiras, mas com um estilo modernista que rejeita o realismo em favor de formas simplificadas e cores ousadas.

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Livro: 1922, A Semana Que Não Terminou

Escrito pelo jornalista Marcos Augusto Gonçalves e publicado pela Companhia Das Letras, o livro "1922 A Semana Que Não Terminou", traz um olhar mais próximo e minucioso sobre os artistas e acontecimentos que marcaram a Semana de Arte Moderna.
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Abaporu e o Movimento Antropofágico

Como mencionado anteriormente, Abaporu é uma das obras mais importantes de Tarsila e do modernismo brasileiro. Além de ser um marco em sua carreira, essa pintura deu origem ao Manifesto Antropofágico, escrito por seu então marido, Oswald de Andrade. O manifesto propunha que os artistas brasileiros devorassem as influências estrangeiras e as transformassem em algo novo e autenticamente brasileiro.

Essa ideia de “antropofagia cultural” é central para entender o impacto de Tarsila no modernismo. Ela soube, como poucos, absorver as vanguardas europeias e traduzi-las em uma linguagem visual que falava diretamente ao Brasil. Ao invés de simplesmente copiar estilos europeus, ela os adaptou ao contexto brasileiro, criando uma arte única e inovadora.

A influência de Tarsila além da Semana de Arte Moderna

As fases artísticas de Tarsila

Tarsila do Amaral teve diferentes fases ao longo de sua carreira, e cada uma delas contribuiu de maneiras únicas para a arte brasileira. Após seu retorno de Paris, Tarsila passou por uma fase chamada “Pau-Brasil”, que é marcada por uma maior simplicidade nas formas e um uso vibrante de cores. Esse nome foi dado por Oswald de Andrade, e a ideia era representar uma arte brasileira, em suas próprias palavras, “nativa e primitiva”, celebrando as paisagens e tradições do Brasil.

A fase “Antropofágica” veio logo depois, e foi caracterizada por uma estética mais ousada e surrealista, como podemos ver em Abaporu. Durante esse período, Tarsila explorou temas que envolviam mitologia, folclore e crítica social, sempre com uma abordagem inovadora. Obras como “Antropofagia” e “A Negra” são representações claras desse momento em sua trajetória.

A Obra “Os Operários” e seu significado

Entre as diversas obras de Tarsila, uma que merece destaque é “Os Operários”. Criada em 1933, essa pintura é uma crítica social à desigualdade no Brasil e é considerada uma de suas obras mais politicamente engajadas. Ela retrata rostos de trabalhadores de diferentes etnias e classes sociais, simbolizando a diversidade e a complexidade do Brasil moderno.

Essa obra marca uma fase de maior engajamento social e político na vida de Tarsila, o que também se reflete em outras produções desse período. Aqui, podemos ver como sua arte evoluiu de uma celebração das cores e formas brasileiras para uma reflexão crítica sobre as condições sociais do país.

Período Fase Artística Características PrincipaisInfluênciasObras Notáveis
1916 – 1920Fase AcadêmicaEstudo de técnicas clássicas e retratos com estilo acadêmico; foco no naturalismo e realismo.Arte Acadêmica FrancesaRetrato de Elza
1923 – 1924Fase Pau-BrasilUso de cores vibrantes; temas brasileiros, como o folclore e a paisagem; simplificação das formas.Cubismo, Cores TropicaisA Cuca, Carnaval em Madureira
1928Fase AntropofágicaInspiração no Manifesto Antropofágico; figuras distorcidas; crítica cultural e exploração da brasilidade.Surrealismo e CubismoAbaporu, Antropofagia
1933Fase SocialTemas sociais e políticos; retrato das desigualdades; foco nas classes trabalhadoras e diversidade racial.Arte Política e EngajadaOs Operários
1950 – 1960Fase MísticaAbordagem simbólica e espiritual; temas que exploram o subconsciente e o surrealismo com traços próprios.Simbolismo e Surrealismo Batizado de Macunaíma
As diferentes fases da evolução artística de Tarsila do Amaral, em ordem cronológica.

A Relação de Tarsila com Outros Artistas Modernistas

A amizade com Anita Malfatti e Oswald de Andrade

Tarsila do Amaral tinha uma relação muito próxima com Anita Malfatti, outra das principais artistas brasileiras do modernismo. As duas eram amigas e colegas, e suas trocas artísticas e intelectuais foram essenciais para o desenvolvimento de ambas. Embora tenham seguido caminhos diferentes no estilo e na abordagem, ambas contribuíram para a revolução artística iniciada pela Semana de Arte Moderna.

Além de Anita, Tarsila também foi casada com Oswald de Andrade, um dos maiores teóricos do modernismo brasileiro. Juntos, eles formaram uma das duplas mais influentes do movimento, com Tarsila contribuindo com sua visão estética e Oswald com suas ideias literárias e teóricas. O Manifesto Antropofágico é um exemplo claro dessa colaboração.

A influência de Tarsila sobre novas gerações de artistas

A influência de Tarsila do Amaral não se limitou à sua geração. Ela inspirou muitos artistas que vieram depois dela, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua capacidade de criar uma arte que fosse ao mesmo tempo modernista e profundamente brasileira abriu portas para que novos artistas explorassem suas próprias identidades culturais e estéticas.

O legado imortal de Tarsila e da Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna foi um divisor de águas na arte brasileira, mas o legado de Tarsila do Amaral vai além desse evento. Como uma das principais artistas brasileiras, Tarsila soube combinar influências europeias com temas nacionais para criar uma arte única, inovadora e profundamente relevante até os dias atuais. Sua capacidade de representar a essência do Brasil, seja por meio de suas paisagens coloridas, figuras folclóricas ou críticas sociais, fez dela uma figura central na história da arte brasileira e mundial.

A Semana de 22 foi o início de uma revolução cultural no Brasil, e Tarsila foi uma das responsáveis por expandir e consolidar os ideais modernistas. Mesmo não estando presente na semana de 1922, suas obras e seu engajamento com o movimento modernista ajudaram a definir uma nova identidade para a arte nacional. Hoje, seu legado continua vivo em museus, exposições e na memória cultural brasileira, inspirando novas gerações de artistas e entusiastas da arte.

Se você deseja compreender o modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna é um ponto de partida essencial, mas conhecer a obra de Tarsila do Amaral é igualmente indispensável. Juntas, essas forças revolucionárias transformaram o Brasil e continuam a influenciar o mundo da arte.

Quer saber mais sobre o modernismo e a influência das artistas brasileiras? Continue explorando nossos artigos para descobrir o impacto duradouro dessas figuras icônicas na história da arte.

Referências:
  1. SCHWARCZ, Lilia MoritzTarsila: Sua Obra e Seu Tempo (Editora Companhia das Letras, 2009)
  2. ARANHA, Maria Lúcia de ArrudaModernismo Brasileiro: Arte, Cultura e Sociedade (Moderna, 2004)
  3. REIS, Carlos Augusto Corrêa dos – “A Importância da Semana de Arte Moderna de 1922 na Consolidação do Modernismo Brasileiro” – Artigo disponível na Revista de História da Arte e da Cultura.